quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Santo de casa e produção cultural

TELA EM ÓLEO - KLEYSSON ABREU


Imperatriz é um grande celeiro de produção artística, apesar de toda a ausência de políticas públicas sistematizadas para o estímulo à produção, circulação e fruição das artes, exemplo é a presença de grandes nomes da música, do teatro, das artes plásticas e da cultura popular nascidos na cidade.
Como resultado dessa ausência o que presenciamos é o êxodo de vários artistas para grandes centros, nos quais, mesmo não existindo políticas públicas para a cultura por parte do poder público, tem ainda o mercado que consome a produção dos mesmos. É certo que isso não resolve em grande parte a situação, mas ameniza e possibilita a sobrevivência por meio de sua produção, com alguma dignidade.
Um dos fundadores da Casa das Artes, recentemente, embalou os pincéis e na mala para Portugal levou mais que saudades. Provavelmente a frustração por não conseguir permanecer em Imperatriz vivendo do seu trabalho artístico.
Estou falando de Kleysson Abreu, artista plástico, um dos “discípulos” de Tonneves, a maior referência na área da região tocantina, que tem resistido e permanecido na cidade por ainda acreditar, apesar de reconhecer a dificuldade. Segundo Tonneves na região existe possui cerca de 30 artistas plásticos, no entanto, poucos vivem somente da arte. Para ele, alguns dos que mais se destacam atualmente são: Kidney Santos (pintura e escultura), Donny Santana, Silvano Araújo, Edney Santos, Zélia Mereb, Fátima Santos, Leônidas Alencar, Milena Vilela, Anne Janes, Luiza Aquino, Abnaldo Ramos (escultura) e Kleysson Abreu. O Mestre lamenta e vibra ao mesmo tempo pela ida do artista para o continente europeu à busca de outros espaços, maior valorização e reconhecimento do seu trabalho.
Já instalado em Portugal, Kleysson agradece o apoio recebido dos amigos em sua decisão e desabafa “pena que eu como artista plástico em Imperatriz há 20 anos, tenho que ir embora para outro país para que meu talento seja reconhecido, mas desejo a todos meus colegas artistas plásticos muita sorte nessa carreira linda e difícil”.
Até quando os milagres dos santos de casa vão passar despercebidos?
A resposta não é tão difícil, a solução também não. E novos sinais já tem aparecido no cenário da cultura nacional apontados pelo Ministério da Cultura, com investimentos previstos para o setor na ordem de 2% do orçamento da União para 2011. A previsão é R$ 1,6 bilhão, que representa 20% de crescimento em relação ao PLOA 2010 e acréscimo de 35% se comparada com o orçamento executado em 2009. 
O estímulo à produção cultural e a ampliação do acesso dos brasileiros aos bens culturais dar-se-á por meio de ações do Ministério  da Cultura destinadas a estimular e  multiplicar a diversidade dos circuitos culturais das artes visuais, plásticas, musicais, da dança,  do audiovisual, do circo, do teatro e das culturas populares e também do aumento da cobertura da produção cultural, de modo a abranger pequenas e médias cidades, territórios de vulnerabilidade social e as classes menos favorecidas da sociedade.
Outros importantes aspectos da política cultural proposta, de acordo com a Mensagem do Poder Executivo, são a promoção do desenvolvimento da economia da cultura, o que contribuirá, inclusive, para a geração de emprego e renda e a modernização da legislação, como o Procultura (alteração da Lei Rouanet) e o Vale Cultura (que permitirá a aquisição de ingressos de cinema, teatro, museu, espetáculos, livros, CDs e DVDs).   
Imperatriz e os demais municípios da região precisam estar preparados para receber uma fatia desse bolo, e possibilitar deste modo o desenvolvimento cultural aliado ao desenvolvimento econômico, isso só acontecerá se os municípios estiverem conectados com as mudanças, que, aliás, estamos falando do assunto há muito tempo.
 A principal mudança passa pelo entendimento da gestão pública da cultura (prefeitos e secretários) que acesso à cultura é um direito básico do cidadão e que é dever do estado possibilitar meios para o estímulo, à produção e à circulação, e ainda, que precisa ser percebida como setor estratégico para o desenvolvimento, e isso requer investimentos de igual importância aos investimentos fundamentais em educação, saúde e segurança.

Lília Diniz


KLEYSSON ABREU

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